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Um desses lendários é Edison Maschio, jornalista, escritor e repórter, como também gosta de ser chamado, e uma das memórias vivas da nossa cidade.
Ele nasceu em Assis (SP),mas chegou em Londrina em 1938, aos 6 anos de idade, sem imaginar que aqui viveria por longa data um elo de amor com o chão vermelho e cresceria junto com a cidade.
Londrina é a senhora mais charmosa do norte do Paraná, ao longo de seus 77 anos de histórias, muitas delas narradas por Edison através dos livros que escreveu ou simplesmente a quem se interessa em sentar e bater um bom papo com o experiente jornalista. Na década de 60 ele editou o jornal “O Diário” que não permaneceu por muito tempo.
Numa época em que Londrina era considerada a capital do café, pessoas de toda parte do país e até do exterior, foram atraídas para cá devido ao grande crescimento econômico. Com uma lembrança não tão longe, o jornalista conta que com um comércio fortalecido e muita gente com dinheiro no bolso, as casas de tolerância foram ganhando espaço e procura. Londrina teve até fama internacional por conta de seus bordéis refinados ostentados com luxo ou casas simples - porém com belas mulheres.
Maschio ouviu e presenciou acontecimentos bizarros e inusitados, outros trágicos, como o assassinato do jornalista Eduardo Muller na vizinha cidade de Astorga. O fato gerou rumores em torno da prática jornalística na época, já que o motivo pelo crime teria sido a crítica feita pelo profissional ao vereador Manoel Valério Mota, que era candidato à prefeito da cidade. Esse acontecido é um dos mais lembrados por Edison, que parece ainda chocado quando fala sobre o assunto. Essas entre outras são histórias que o velho escritor descreve com fidelidade em “Histórias Ocultas” uma de suas obras com um título pra lá de auto explicativo.
Como um bom romântico, passa horas com sua antiga companheira, a máquina de escrever, que nos dias atuais tem sido esquecida, mas não por ele, que adora passar o tempo exercitando os dedos nas teclas enquanto puxa pela memória os devaneios de um tempo que não volta mais. Gosta também de dar asas à imaginação como todo apaixonado pela escrita e pela leitura. Os romances são seus preferidos, no entanto é pai de dois livros bem escritos “Raposas do asfalto” e “Escândalos da província”, esse último, de 1959, foi o primeiro romance escrito, ambientado e publicado em Londrina. Mas tudo não são somente flores. Com apenas 25 anos de idade, Maschio precisou fugir para São Paulo por causa das ameaças de mortes que sofreu por parte das pessoas que se sentiram retratadas no romance satírico. O jovem jornalista teve que passar uma temporada de auto-exílio na maior capital do Brasil. Mas não deixou se abater pelo ocorrido, não desistiu e nem deixou afogar seus objetivos. Retorno à terra do pé vermelho com mais garra e imponente perante aos inimigos.
Senhor dos seus 77 anos bem vividos , mesma idade de Londrina, sua musa inspiradora, apresenta os cabelinhos grisalhos da cor da experiência e o corpo franzino mas com uma mente bem robusta. Em suas caminhadas, leva consigo uma simpática bengala e uma boina escura, características de um senhorzinho que não dispensa a companhia do charme e da elegância.
Ele passa serenidade e saudosismo ao falar das histórias do passado, seus olhos brilham com facilidade, e as palavras parecem ir de encontro ao coração. Não chega a se emocionar explicitamente, mas emociona quem ouve suas narrativas do passado, pois causa a impressão de estar cara a cara com as décadas anteriores, a imaginação de vivenciar um daqueles momentos, ora chocantes, ora divertidos ou misteriosos. Quem tem a oportunidade de prosear com Edison Maschio tem não só o prazer de desvendar situações delicadas envolvendo a alta sociedade londrinense e seus amigos da aristocracia estrangeira, mas pequenas aulas de história como o desbravamento do norte do Paraná e suas personalidades influentes.
Um homem com espírito jovem, Machio sempre foi avançado para o seu tempo. O senso crítico e a autenticidade o fizeram cair nos braços do jornalismo, com a exatidão de ser um eterno apaixonado.
(por Areuza Oliveira)
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