O livro, com aparência infantil, tem um personagem com essência cruel, irônica e sagaz. O narrador se apresenta com a frase: “Eu sou um gato e ainda não tenho nome, a última coisa que me lembro é a sensação de conhecer os humanos e descobrir como eram desagradáveis”.
Ele, o tempo todo, ridiculariza a tola visão de seu dono dizendo coisas como “o principal problema dos humanos é não repararem na própria imbecilidade ao se olharem no espelho”, o Gato ao indicar à ignorância inerente à raça humana traça um perfil da condição humana.
O livro é, em alguns trechos, uma discussão sobre ética, como por exemplo quando o Gato afirma que só pode concluir que o ser humano é egoísta, isso lembra o que dizia Maquiavel: “o mais importante não é a forma de governar mais sim saber dominar a plebe”. Shiron, a amiga de Gato, também se vale de Maquiavel ao dizer que “Não existe criatura mais impiedosa que o ser humano”.
Outro momento em que se discute os princípios de éticas desrespeitados pelo ser humano é a invasão de propriedade que o Gato diz ser comum a toda espécie humana, Locke concorda com o Gato no sentido do direito de propriedade quando fala que se este direito não for cumprido poderá ter livre acesso a uma rebelião, mas aparentemente para o Gato isto não acontece, porque quando os da sua espécie se rebelam contra os humanos normalmente são torturados.
Em certo trecho, o Gato tem um leve impulso de carinho por seu dono, quando diz que se fosse para ser um humano gostaria de nascer mestre assim, como seu amo, pois para ele não há profissão mais digna do que a de ensinar. O Gato, ao mesmo tempo sente pena de seu dono, jamais é respeitado pela sociedade, é incapaz de exibir superioridade diante dos outros humanos em qualquer coisa que se disponha a executar embora experimente um pouco de tudo.
Os sentimentos vividos pelo Gato às vezes são assustadoramente humanos, sendo o mais inquietante, seu desprezo ao falar da natureza do homem, encher-se de orgulho e se vangloriar da sua autoridade, sem se importar com os sentimentos de outros seres - inclusive outros humanos. O livro “Eu sou um gato” discute com o leitor o fato de todos os humanos divertirem-se sendo maus, sem se importar com nada, nem ninguém. Uma discussão válida e atemporal para uma sociedade cada vez mais egoísta.
(por Fernanda Frigeri)
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