segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Filme "Amarelo Manga": Um retrato do Brasil


O filme Amarelo Manga (2003), do diretor Cláudio Assis, é interessante para quem gosta de documentários ou de críticas em relação à atual sociedade. com uma linguagem atual, a obra não tem prazo de validade. Amarelo Manga nos mostra um reflexo do Brasil pobre, marginalizado, onde não existem mocinhos nem vilões, em que o povo não é tratado com tiranias e condescendências. O filme aborda também temas como homossexualidade, necrofilia e adultério de um modo menos sombrio e menos estereotipado do que estamos acostumados a ver nas películas com estas temáticas.

O filme começa com Ligia, uma mulher mal humorada, dona de um bar, dizendo que "o ser humano é estômago e sexo. O resto é o resto: comida, cerveja, amigos. Tudo coisas. Apenas os cães são fiéis". E assim desenrola uma trama com vários encontros e desencontros amorosos na periferia de Recife.

Ele nos revela personagens como o açougueiro Wellington: machista, infiel e casado com Kika, uma protestante devota. O traficante Isaac que tem uma obsessão por pessoas mortas. A dona do bar, Lígia, que sofre assédio de todos os clientes, e o travesti e cozinheiro Dunga, que tem uma paixão doentia pelo açougueiro.

O cenário da trama é a pensão onde todos os personagens moram - o que nos faz lembrar do clássico do realismo-naturalismo brasileiro, "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo. A violência no filme não chega a ser assustadora nem mesmo nos provoca algum tipo de emoção mais forte, mas incomoda porque os personagens são brasileiros. E nós, espectadores, também somos brasileiros. Um dos personagens, o tempo todo repete a frase: amarelo é cor de ouro, cor de alegria e energia, mas aqui, amarelo é cor da meleca que sai no nariz, dos dentes apodrecidos, da podridão das feridas. Amarelo velho, desbotado e doente.

O filme é o retrato mais verdadeiro e preciso do Brasil. Mas vai além disso: é um retrato do lado obscuro do ser humano. Meio clandestino, meio autêntico, meio podre, meio alma e meio ilusão. Neste filme, as máscaras são pouco a pouco retiradas. E, saiba, isso vai lhe incomodar. 

Assista ao trailer:

(por Fernanda Frigeri)

0 comentários:

Postar um comentário