O filme começa com Ligia, uma mulher mal humorada, dona de um bar, dizendo que "o ser humano é estômago e sexo. O resto é o resto: comida, cerveja, amigos. Tudo coisas. Apenas os cães são fiéis". E assim desenrola uma trama com vários encontros e desencontros amorosos na periferia de Recife.
Ele nos revela personagens como o açougueiro Wellington: machista, infiel e casado com Kika, uma protestante devota. O traficante Isaac que tem uma obsessão por pessoas mortas. A dona do bar, Lígia, que sofre assédio de todos os clientes, e o travesti e cozinheiro Dunga, que tem uma paixão doentia pelo açougueiro.
O cenário da trama é a pensão onde todos os personagens moram - o que nos faz lembrar do clássico do realismo-naturalismo brasileiro, "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo. A violência no filme não chega a ser assustadora nem mesmo nos provoca algum tipo de emoção mais forte, mas incomoda porque os personagens são brasileiros. E nós, espectadores, também somos brasileiros. Um dos personagens, o tempo todo repete a frase: amarelo é cor de ouro, cor de alegria e energia, mas aqui, amarelo é cor da meleca que sai no nariz, dos dentes apodrecidos, da podridão das feridas. Amarelo velho, desbotado e doente.
O filme é o retrato mais verdadeiro e preciso do Brasil. Mas vai além disso: é um retrato do lado obscuro do ser humano. Meio clandestino, meio autêntico, meio podre, meio alma e meio ilusão. Neste filme, as máscaras são pouco a pouco retiradas. E, saiba, isso vai lhe incomodar.
Assista ao trailer:
(por Fernanda Frigeri)
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