Nem todas as palavras de um escritor em alguma entrevista, palestra ou coisa assim diz mais que o próprio texto literário. Este grita do lado de dentro do corpo de um jeito que as palavras faladas não conseguem.
O bate papo com Mário Prata realizado pelo SESC Londrina durante a programação da Semana Literária foi intitulado de “Literatura e Sociedade”. No entanto Pratinha, como é geralmente chamado por aqueles que já têm uma relação mais íntima com seus textos, deixou bem claro que veio falar de Literatura - da sua, dos outros, suas opiniões, histórias, devaneios. Como disse no início, nada melhor para apresentá-lo do que com o próprio texto literário. No caso a crônica, gênero pelo qual o escritor mais transita. A crônica lida foi “Você é um envelhescente?” e até quem pouco conhecia o escritor já esboçava sorrisos de simpatia imediata na plateia.
Mário viveu no olho do furacão da contracultura: os anos 60. Sua juventude foi cercada de movimentos estudantis e foi exatamente durante uma ocupação da USP que ele se viu pela primeira vez como escritor. Dentro de um dos gabinetes ocupados, existia uma máquina de escrever maravilhosa. Ele sentou e começou a escrever. Desse episódio saiu “O morto que morreu de rir”, seu primeiro livro de contos, do qual ele só gosta do conto homônimo.
Mário Prata trabalhou com televisão, cinema, literatura e teatro. Começou cedo, estreou sua primeira peça com 23 anos e a primeira novela com 27. Foi colega de trabalho de escritores brilhantes, como Nelson Rodrigues e Stanislaw Ponte Preta. Hoje, cronista valorizado, com crônicas que fazem parte de antologias respeitadas - como “As 100 melhores crônicas do século”, ele se auto julga: “Para escrever tem que ter talento e sorte. Eu sempre tive mais sorte”.
Dentre todas as coisas que mais chamam atenção no gênero crônica é a forma como o cronista consegue olhar as pequenas coisas. Singularizar o fato miúdo, a notícia de jornal, a piada contada em mesa de bar: “O que eu faço é pegar o banal e brincar com ele. Eu sou muito banal”, diz ele.
Pratinha é um cara bem humorado. Isso se reflete nas suas crônicas e também foi o tom principal do bate papo. Com descontração sem perder a criticidade, ele tocou em assuntos tensos, como a ditadura militar. Nessa época, foi roteirista da novela “Estúpido Cupido” e disse que enganava a censura colocando nomes como João em um personagem, Belchior em outro (João Belchior Goulart era o nome do então Presidente do Brasil), e Maria Tereza (nome da esposa de Jango) em outro. O problema em fazer isso? “Você queria enganar a censura mas acabava enganando todo mundo!”.
Muitos dizem que o fim do livro está próximo. No Brasil, que não é claramente um país de muitos leitores, muitos dizem que nunca se leu tão pouco e que a internet é uma das grandes responsáveis por isso. Mário discorda: “Nunca se leu e se escreveu tanto quanto hoje na internet.” Para ele, o que acabou prejudicando a formação de leitores foi a inclusão da literatura como parte do vestibular: “Lá por 1967, um babaca resolveu colocar a literatura no vestibular e a nivelou com livros de química, matemática etc.”
Mário Prata também acha que a literatura não deve ser levada muito a sério. Típico cronista, enxerga no próprio cotidiano a inspiração para uma história. Dificilmente inventa algo totalmente. A maioria é desdobramento criativo de sua própria vida: “Sou sempre um cronista em tudo o que eu faço. Meu olhar é “crônico.”
(por Layse Moraes)
(por Layse Moraes)
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